quarta-feira, 25 de outubro de 2017

done it!

aconteceu. está feito. e segundo a minha mente, quando o segundo dia passa, o pior já passou. fui operada à coluna!

o A subiu comigo para o andar da operação, quando já não me podia acompanhar, acho que me deu um beijo. continuaram a levar a minha maca e eu sorri-lhe e acenei. como estava sem óculos e sem lentes, não sei qual foi a reação.
já me tinha dito muitas vezes que ia tudo correr bem.
já lhe tinha dito muitas vezes que ia tudo correr bem.
e assim, apesar dos nervos, mas certa de que ia tudo correr bem e certa de que ele não queria falar das maiores maluqueiras que as minhas que lhe passavam pela cabeça, apenas pude oferecer o meu melhor sorriso ao meu marido.

lembro-me duma enfermeira nova (pela voz, porque continuava sem ver nada) muito simpática a pôr-me o cateter muito suavemente, muitas conversas sobre turnos e trocas de colegas, um doutor espanhol que ia de seguida buscar a filha para a levar a Paris, da dra Joana anestesista, de desviarem várias vezes a minha maca para verem bem o quadro dos turnos e operações (estes gajos deviam ver a Anatomia de Grey para umas ideias mais práticas). lembro-me de todos muito simpáticos a brincarem uns com os outros - foi claramente o intervalo entre cirurgias onde precisavam de desanuviar em grande! lembro-me de pensar que, se me dessem na altura a anestesia, seria sem eu dar por isso, mas de forma muito pacífica.
veio um assistente do dr, também cirurgião, e também assistente do dr no hospital público onde me começou a seguir. apresentou-se, Pedro... com alguma barba, moreno, com uma senhora voz.. claro que eu ... não o consegui ver! ele viu exames, confirmou os sítios onde eu tenho mais dores, pediu desculpa por estarem sempre a confirmar as mesmas coisas..
eu disse: não se preocupe, eu percebo. não leve é a mal se eu o vir na rua e não o cumprimentar, porque sem lentes não vejo nada!
(!!!!!!!!!!!)
[já disse que por esta altura já me tinham dado um calmante há pelo menos uma ou duas horas? acho que se nota]
a seguir entrei na sala de operações, ouvi o meu neurocirurgião a dizer-me para me encostar à beira da marquesa, junto à outra marquesa que tinha dois "rolos" gigantes.
Dr.: É silicone, pode tocar.
Eu: podia ter dito que teria silicone, para lhe pedir para me fazer outras coisas também.
Dr.: Ah, sim? Como o quê?
..e não me lembro de mais nada.
adormeci calmamente e sem aquele nervosismo dos últimos segundos antes de sentirmos a anestesia, e foi bom assim.

dei por mim a tremer, alguém viu e pôs um aquecedor forte entre os cobertores. acordei com aquele quente, muito calmamente e a primeira coisa que fiz foi tentar mexer os dedos dos pés: CONSIGO e SINTO-OS! pouco depois estava a ouvir a voz do A em lágrimas! ele tinha que se ir embora o que me fez saber que a operação tinha demorado muito mais do que o esperado.

na terça tomei duche (abençoado) mas tive grande parte do dia a acordar e adormecer. o A esteve pouco tempo comigo porque parecia pior que eu (homens). o dr disse que me podia ir embora mas disse-lhe que preferia ficar mais um dia.
na quarta um enfermeiro experimentou o primeiro levante - considerando que já tinha tomado duche e ido várias vezes fazer xixi, não sei o que ele quis dizer. passado poucos minutos comecei a ficar muito mal disposta, quase com vomitos e toda a suar estupidamente, a tremer. estava ao telefone com uma amiga e para não a assustar, disse que estavam a bater à porta e desliguei enquanto tocava no botão - a quebra de tensão é muito habitual no pós operatório.
conforme me deitei, perguntei se podia fechar os olhos e adormeci logo.
poucas horas depois chegou o A, depois o almoço, depois a senhora Ana que faz visitas para companhia há mais de trinta anos - algo tão importante e simples que nos esquecemos!
o enfermeiro de Reguengos de Monsaraz tirou o dreno e depois o cateter do pulso e foi muito menos doloroso do esperado. fiquei umas horas sem qualquer medicação e estou viva, sem me contorcer de dores. decidi ficar mais uma noite, não propriamente por me sentir num hotel, mas porque amanhã estarei muito melhor.
os Bichinhos estão bem, tenho falado com eles todos os dias. mas não quero muito falar com ninguém sobre eles.
e a vista do meu quarto é, obviamente, de uma Princesa!

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