segunda-feira, 31 de março de 2014

um momento só meu e teu

chove lá fora. muito. sendo 31 março, estou indecisa entre "março,marçagão, manhã inverno, tarde verão" ou "abril, águas mil". fico contente ao pensar que não tenho de ir trabalhar.

a ouvir isto, e é bom com chuva.

a pensar neste pequenino ser que cresce dentro de mim. o qual me tenho sentido a não ligar. a chuva faz-me achar que julho está muito, muito longe.

este fim-semana o A disse-me "como julho já está quase aí..." não ouvi o resto, não faço ideia do que é que ele me falou de seguida, simplesmente lhe disse "só voltas a dizer 'julho está quase aí' quando fores tu a estares grávido e a teres de abrir as pernas para teres a criança". olhou para mim como se não tivesse percebido inteiramente, como se tivesse de lhe explicar qualquer coisa, como se tivesse de lhe dizer com todas as palavras que ainda não estou preparada, e só me lembro de pensar "sou eu que estou grávida, é ele que tem de pensar".

tenho-me questionado se esta falta de ligação poderia, de alguma forma, ser diferente ou mesmo não existir. lembrei-me de algumas palavras da Luiza, quando a segunda filha era uma feijoazinha. falei com a Luiza, uma querida mesmo. falámos deste sentimento de desconexão. ela enviou-me alguns posts sobre o assunto. reforcei dentro de mim o que já tenho tentado fazer desde há umas semanas, mas que quero fazer mais vezes, "construir um momento só meu e dele" , e ao fazê-lo, lembro-me mais da D na minha belly, penso como ela neste momento me faz brilhar, como ela brilha na minha vida. lembro-me que sei que ele vai fazer-me descobrir o que é sentir o amor a multiplicar, e desejo com força que esse sentimento chegue, mesmo sabendo que chegará com o parto. depois penso que é melhor deixar de pensar.

parece que a segunda gravidez é assim mesmo - desligada. ou mais desligada. não há tempo para tantas complicações, tantas preocupações, tanta necessidade de saber se a criança está bem a cada segundo. mas também não tem de ser igual, e não temos de nos sentir mal com isso. temos uma Pirralhinha cá fora a fazer o nosso tempo correr, as gargalhadas a sucederem-se, os sentimentos a serem reais. no entanto, estou em casa, com poucas conversas fora da minha cabeça, demasiado tempo para pensar. e fico com tempo para achar que o mundo pode desmoronar-se, que o segundo vai concerteza trazer mais mudanças que a primeira (mesmo sabendo que isto nunca poderia ser verdade). que a D é tão abençoada com perfeição, e nós tão abençoados com toda a vida e saúde e tudo nela que fico aterrorizada a achar que o segundo nunca poderá vir perfeitinho... no entanto, tudo isto, é mesmo assim vivido com uma calma estupidamente tranquilizadora.

passo cada segundo com a D com toda a intensidade, mas fazendo de tudo para que ela não note qualquer diferença. preocupo-me com tudo o que tem a ver com ela. o que vai pensar sem conseguir explicar-se, o que vai sentir sem que nós percebamos. falo com ela. vai deixar de ser a única, mas vai passar a ter o estatudo de mana grande, a que já sabe muitas coisas, a que vai ajudar, ensinar, mimar. por muito que ter dois filhos seja um sonho, um aprendizado, uma vontade enorme de que seja agora e não depois. por muito que ter dois filhos com idades próximas tenha sido pensado e planeado, por muito que a certeza de que vamos aprender seja real, aprender tanto, todos, a mana grande, os dois pais, também o little one, não é tudo automático ou simples, e o que fica sempre, o que dói mais, é a possibilidade da D se sentir menos amada.

fico babada a pensar em todas as vezes que a D pede para dar beijinho na minha barriga, aponta para o mano, faz barulhos na barriga e chama o nome dele, com um sorriso forte e duma forma trapalhona que ainda não consigo transcrever. fico a pensar que a semana passada tivemos várias horas com um menino de um mês, só nós quatro (nós duas, a minha amiga e o seu bebé). fez festas, teve curiosidade, quis ver e chamou-o e esteve atenta com ele a mamar, e pediu para dar beijinhos (e deu muitos) antes de se irem embora. teve um pouquinho de ciúmes quando o papá chegou do trabalho, mas os ciúmes deram-lhe para não saber o que fazer connosco pais, não lhe deram para fazer algum tipo de maldade à criança. todas as traquinices que fez, teve a ver com termos visitas em casa e não com estar ali algo a provocar ciúmes e comprovei-o quando, dois dias depois, esteve cá uma tia adulta e sozinha, e ela fez o mesmo.

ser mãe, neste momento, é precisar de vários momentos e não conseguir que eles sejam como eu desejaria. momentos com o pai, com a filhota, com o pirralho na belly. é sofrer por antecipação mas não conseguir antecipar tantas coisas. é ser mãe.

Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails